segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Aconteceu....como um leve sopro do destino


"Aconteceu, eu não estava a tua espera
E tu não procuravas nem sabias quem eu era
Eu estava ali só porque tinha de estar
e tu chegaste porque tinhas de chegar
Olhei p´ra ti , o mundo inteiro parou
nesse instante a minha vida, a minha vida mudou"


Tudo se resume a estes simples versos. Bastou um olhar, bastou um leve sopro e um doce toque, e tudo o que estava guardado cá dentro há tanto tempo voltou a surgir. Como uma brisa suave que me acalma, mas ao mesmo tempo como um fogo que me queima o coração. Arde, mas não me fere. Faz-me bem. faz-me sentir feliz. Aquela palavra da qual eu há tanto tempo procurava o significado. Agora encontrei. Assim tão de repente. Porque só me sinto verdadeiramente feliz quando os meus olhos encontram os teus. Só me sinto verdadeiramente feliz quando respiro o mesmo ar que tu. A única coisa que peço à vida é para te trazer para junto de mim, de uma vez por todas. Não consigo conceber a ideia de a vida te ter trazido de novo para perto de mim se não for para sermos felizes, desta vez. Porque eu quero, porque eu o desejo verdadeiramente. Quero ser feliz, e fazer-te feliz. Porque o meu "Eu" só existe verdadeiramente quando estou perto de ti. Agora sei isso.
Só peço que a vida te traga até mim...de uma vez por todas....Como um leve sopro do destino.

sábado, 8 de agosto de 2009

Faleceu "o Actor das mil faces"

(Lisboa; 19 de Outubro de 1929 - Lisboa, 8 de Agosto de 2009)
Faleceu o pai do Humor em Portugal.

Raul Augusto Almeida Solnado foi um humorista, actor português e ,ainda, apresentador televisivo.
Raul Solnado morreu este sábado aos 80 anos. O actor estava internado no hospital Santa Maria e esta manhã, por volta das 10h50m, foi confirmado o óbito. Segundo informou o hospital,Raul Solnado nao resistiu à evolução de um quadro clinico Cardio-Vascular grave.
No palco destacou-se como actor de mil faces, mas foi com as gargalhadas que Raul Solnado se tornou uma figura mítica do espectáculo. Um génio do humor que conseguiu pôr Portugal a rir de uma guerra sem sentido (com famosa rábula «a guerra de 1908»), numa altura em que a guerra colonial era um assunto tabu.
Raul Solnado deu a conhecer a Portugal um tipo de humor nunca antes visto.
Fazem falta ao nosso país mais Homens com "H" grande, como este senhor o era. O Humor perdeu o seu melhor representante de todos os tempos, e hoje, dia 8 de Agosto, ficou um pouco mais pobre e com menos brilho.
Raul Solnado era um verdadeiro génio. Nao só do humor; como também da própria vida em si.
Vamos sentir saudades, Raul Solnado.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Um ídolo...Uma lenda


(1958-2009)

Que dizer de uma pessoa como Michael Jackson?
Genial, Surpreendente… parece-me pouco.
Michael Jackson era de facto um artista completo. Interessante e inovador a todos os níveis. Acredito seriamente que por detrás de todos os escândalos e excentricidades, escondia-se uma das melhores pessoas que este mundo teve o prazer de conhecer.
O Rei da POP jamais morrerá. O seu corpo já não estará mais presente, mas a sua alma ficará para sempre junto daqueles que o admiram, e nos corações de todos aqueles que cresceram ao som das suas excelentes músicas. Através da música, Michael Jackson persistirá para sempre, sendo conhecido pelas futuras gerações como um dos maiores artistas de sempre. Para mim será recordado como o melhor artista de todos os tempos.
Para terminar não digo adeus. Digo apenas duas palavras simples de reconhecimento por todo o trabalho e pelo homem que o rei foi.
Obrigado, Michael.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um reflexo do que sou***





Esta foi uma fotografia que tirei em Belém. É um reflexo de como me sentia neste dia. Como uma gaivota. De asas abertas, voando sobre o mar, revolto mas tão fascinante, que é a vida.

Um bocadinho de mim
















Duas das pessoas mais importantes da minha vida. Não seria o que sou hoje sem eles. Tantos passeios, tantas conversas... realmente essenciais.


Filipa Baptista
O Teu Lugar (pela vida adentro)
Letra e Música: Augusto Madureira



Já é noite e a esperança
É de novo uma criança
Dou por mim a perguntar
Se há um mundo mais azul
Mais a Norte ou mais a Sul
Onde te possa encontrar
Chegou a hora
Vou fazer outro poema
Não sei se valeu a pena
Construir-te em sonhos meus
Chegou o tempo
De entrar pela vida adentro
Não sei bem se te lamento
Só quero dizer-te adeus
Canto mais uma canção
Faço um filme de ilusão
Já nem sei se sei dançar
Bebo um copo de ansiedade
És mentira ou és verdade?
Já é dia
Desta vez não vou chorar
Construi-te em sonhos meus
Mas, sabes, depois do adeus
Acabei por acordar
E então fiz promessas vãs
Foram tantas as manhãs
Olho em volta
Sinto ainda o teu lugar

Todas as ruas do Amor

Se sou tinta
Tu és tela
Se sou chuva
És aguarela
Se sou sal
És branca areia
Se sou mar
És maré-cheia
Se sou céu
És nuvem nele
Se sou estrela
És de encantar
Se sou noite
És luz para ela
Se sou dia
És o luar
Sou a voz
Do coração
Numa carta
Aberta ao mundo
Sou o espelho
D’emoção
Do teu olhar
Profundo
Sou um todo
Num instante
Corpo dado
Em jeito amante
Sou o tempo
Que não passa
Quando a saudade
Me abraça
Beija o mar
O vento e a lua
Sou um sol
Em neve nua
Em todas as ruas
Do amor
Serás meu
E eu serei tua
Se sou tinta
Tu és tela
Se sou chuva


(Flor-de-Lis
Todas as ruas do amor
Letra: Pedro Marques / Música: Pedro Marques, Paulo Pereira)

“Shattered Glass – Verdade ou Mentira”


O filme “Shattered Glass – Verdade ou Mentira” reflecte um olhar profundo e extremamente importante sobre o jornalismo enquanto profissão.
Baseado em factos reais, “Verdade ou Mentira”, relata-nos a história de Stephen Glass, um jovem de 26 anos, que entrou como estagiário para uma conceituada revista - “The New Republic”- e que rapidamente se tornou num excelente cronista, admirado por todos os colegas devido à sua capacidade de encontrar acontecimentos sobre os mais diversos temas, com uma facilidade incrível. À partida, “Steve” surge como um homem humilde, bom profissional, que relata a sua visão da profissão que exerce. Segundo ele, o jornalismo é um trabalho duro e intensivo, em que são os defeitos e as vacilações dos intervenientes que tornam um artigo interessante. Para Steve, O importante é o público-alvo, dando grande importância aos pormenores e revelando a necessidade de anotar tudo o que vê, tudo o que ouve.
Contudo, o desenrolar da história, vai desvendando o lado mais depreciativo de Stephen, desfazendo toda a personagem construída até então. O seu génio e profissionalismo aparente acabam por atraiçoa-lo. A sua carreira sólida desaba quando Adam Penenmberg, jornalista da revista on-line “Forbes Magazine”, põe em causa a veracidade de um dos seus artigos (Hacks Heaven). È um choque para todos, quando se descobre que 27 dos seus 41 artigos publicados foram inventados. A ambição desmedida de avançar na carreira, a busca de afirmação e sede de protagonismo levava “Steve” a imaginar histórias e personagens, criando artigos originais, lúdicos e entusiasmantes. E o ponto mais interessante de toda a história é quando nos apercebemos de que “Steve” é fascinado pelas suas próprias histórias, acreditando nelas e defendendo-as de forma obstinada e manipuladora, mesmo depois das suas mentiras serem descobertas. Embora o realizador não explore, explicitamente, a motivação para tais comportamentos, demonstra-nos a realidade por trás das aparências: as relações conturbadas que se vivem neste mundo, a procura da fama sem olhar a meios, a falta de espírito de equipa, o rigor e exigência desta profissão e o poder dos Media.
Na minha opinião, este filme é um excelente relato de um drama humano, que nos conduz a uma profunda reflexão sobre as responsabilidades inerentes à ética jornalística e à necessidade de uma perspectiva idealista, esclarecedora e cívica da parte dos jornalistas. Através das personagens temos a realidade sobre este mundo, e uma visão sobre determinadas práticas jornalísticas. È bastante perceptível a barreira marcada entre o que é certo e o que é errado. Leva-nos a concluir que o querer avançar, o querer ser melhor, pode trair-nos se não soubermos fazê-lo de uma maneira honesta, adequada a esta profissão, como o dever de confrontar todos os dados com a realidade, confirmar fontes, entre outras práticas. Fica ainda a certeza, através deste filme, de que a verdade é a única credibilidade admitida neste mundo e a melhor maneira para se ser um bom profissional e alcançar os nossos objectivos.

Em trabalho - 8ª Colina

http://www.escs.ipl.pt/pdfs/8colina/8col7.pdf

Página 29 - 30 : Entrevista à jornalista Ana Leal, jornalista da TVI

“E os dedos dançam na ponta da página…”



Filipa Martins
Elogio do Passeio Público
Guimarães, 2008
149 Páginas
15€
****


Inteligência é talvez a palavra que melhor define Elogio do Passeio Público. É de uma maneira criativa e extremamente inteligente que a autora, Filipa Martins, retrata as limitações do ser humano.
A obra contém uma receita que prende a atenção do leitor do inicio ao fim: uma dose de bom humor, uma pitada de exagero e q.b. de dificuldade.
Em Elogio do Passeio Público, com uma acção decorrida em “passeios e ruas olisiponenses, onde as senhoras virtuosas passeiam as cadelas e o resto passeia a fome” - (p.17), é-nos mostrado que «a vida é uma história com muitos alçapões» - (p.133), retratando-se a condição humana e a maneira como as pessoas, ao saírem de suas casas, pretendem que os outros olhem para elas da melhor maneira criando, por vezes, personagens aos olhos dos outros, uma espécie de vida dupla. Assistimos, assim, à criação de um “nosso homem”, que querendo ser bom em alguma coisa, criava uma fachada para a sua preguiça. Encontramos uma Aurora que é Consuelo, uma mulher da moda, de virtudes aparentes durante o dia, mas que durante a noite se transforma num mero objecto para satisfazer os desejos carnais de “generais e tenentes” e de outros “nosso homem”, talvez devido ao que o narrador chama de “inaceitabilidade do seu EU”.
A utilização de “personagens-tipo” confere à obra um carácter social, em que cada uma representa uma classe de uma época particular - o Estado Novo. Um general cujas capacidades eram maiores que as do país, cujas ideias e visões estavam mais à frente da altura; um “pai do nosso homem” que criticava a ditadura mas vivia às custas deste regime e que acreditava que nesta vida “nada se faz com se faz favores”; a peixeira, a Velha Castiça e tantos outros…
Não se espante, caro leitor, com a denominação das personagens. Pergunta-me pelos seus nomes? Pois nem eu o sei! E este é um dos pontos mais curiosos do livro: a inominação das personagens, que nos remete, de certa forma, para o panorama social da altura em que as pessoas viam o seu estatuto de “ser humano” reduzido.
Outros dos aspectos que, na obra, despertam o interesse do leitor é o facto de o narrador nunca terminar um episódio, deixando-o em suspense e retomando-o mais à frente, revelando o seu contexto. Isto faz com que o leitor só no fim, reconstruindo toda a história, se aperceba dos factos e das ligações existentes.
Elogio do Passeio Público é, sem dúvida, uma excelente representação (um tanto ou quanto disfarçada) da postura ditatorial existente e da vida no Estado Novo. Através das personagens, o narrador (cuja presença vai sendo mais demarcada e mais notória ao longo do livro) estabelece uma relação entre os comportamentos e as vivências neste regime repressivo. Apercebemo-nos da tristeza e desespero que o país atravessava – «uma camada feita de pequenez do pensar e de tristeza farta, que quase chega a ter em si uma beleza própria daqueles que aceitam um certo grau de desespero. A beleza dos tristes.», P.27-; uma sensação de inconformismo face à situação vivida e de admiração por quem tinha estado “lá fora”; a Puritanidade (quase que ridícula) que transformava Portugal num país de virtudes aparentes, de prazeres e desejos escondidos - «Dentro do hábito, deliciava-se com as partes proibidas de livros (…) com textos inapropriados à sua condição religiosa.» - P.41; e ainda um patriotismo exacerbado e a necessidade de uma constante exaltação do nacionalismo: o lema dos “soldados” era «nós amamos a nossa pátria», a “Portuguesa” estava sempre a passar na rádio “desde que o sol se põe, até que o galo canta”…
Também a Censura e o Controle exercidos têm um papel relevante no desenrolar da obra – encontramos o exemplo da lista de livros proibidos e a cómica e bem-humorada descrição das “substituições arcaicas e automáticas” que provocavam grandes gargalhadas nas tabernas «Em Lisboa só se publicavam cantos gregorianos e histórias de fazer oó (…) e romances de cordel com emendas, onde as “relações sexuais” dão lugar ao “coito”…» - P.25; e ainda o exemplo do controle da PIDE (apelidada de “as toupeiras”) em relação aos isqueiros.
Outro dos assuntos bastante interessantes é o valor, representação e papel da mulher na sociedade. Vemos que as mulheres eram, um tanto ou quanto, reduzidas na sua condição humana em que «a aparência é importante. (…) os homens não gostam do lado de galinácea das mulheres (…) Acene muito (…) junte um pouco mais os braços para realçar o decote.» -P.66. Vemos as mulheres como que transformadas em objectos perante os homens (e lembremo-nos que nesta altura existia o conceito de que o chefe de família era o Homem) que serviam para concordar com eles e lhes dar prazer. Temos a personagem da Consuelo ( que é Aurora) como exemplo desta situação.
O religiosismo é também frequentemente satirizado descrevendo-se as crentes como «envoltas em xailes negros e de catecismo e terço na mão» - P.18. Outra descrição extremamente bem conseguida, é o caso das viúvas, caracterizadas como “uma comunidade de formigas em carreiros”, sempre vestidas de preto com os seus rituais e comportamentos tão próprios.
Nesta obra as vidas são como que expostas no “passeio público”, revelando os defeitos e qualidades dos “seres humanos”, levando-nos, inevitavelmente, a rever-nos em algumas destas personagens. A complexidade da escrita (marcadamente e inesperadamente masculina) leva-nos muitas vezes a ter vontade de fechar o livro, parar para respirar e assimilar tudo o que já foi lido, mas a perspicácia da descrição e da apresentação da história leva-nos, também, de imediato a retomar a leitura e, como que a devorar a obra, querer chegar ao fim para completar a trama e terminar o puzzle. Mas, caro leitor, no fim fica uma certeza: definitivamente, “os dedos dançam na ponta da página”.

a minha alma

“… demorei muito tempo a perceber onde me sentia feliz. É incrível como o medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria, nos impede de ver a realidade, tira-nos o discernimento, tira-nos a capacidade de sermos felizes. Durante muito tempo tive medo…não tive coragem de olhar em frente, de deixar para trás o passado e passar por cima das desilusões. Não sabia por onde ir, que caminho escolher, o que fazer…
Posso dizer que tenho os melhores amigos do mundo, que me ajudam a levantar cada vez que caio (e acreditem que estou constantemente a tropeçar nas pedras que a vida me vai deixando ao longo do caminho…em vez de as apanhar ou de saltar por cima, deixo-me ir e o resultado por vezes é desastroso…alguns arranhões…muitas feridas… mas os amigos, esses, estão sempre lá para me ajudar); amigos que me ajudam a escolher os caminhos mais correctos; amigos que me mostram os meus talentos, que me sobem a auto-estima, que me dão conselhos até altas horas da madrugada; amigos que estão sempre lá; enfim… amigos que, acima de tudo, me ajudam a crescer.
Com eles, aprendi que somos nós, com os nossos passos, que fazemos o nosso próprio caminho. Há aqueles que correm demasiado depressa e se perdem; há quem se arrisque por atalhos; há quem deixe marcas no caminho para poder voltar atrás…
…agora percebo que cada um de nós tem o seu destino nas mãos e somos nós (e só nós) os responsáveis pelo que nos acontece. Não podemos deixar-nos prender pelo passado. O passado fica no passado! Seja bom ou mau, é passado! É óbvio que as experiências vividas e as recordações que ficam são importantes para o nosso desenvolvimento enquanto seres humanos, e o “Ontem” é algo que nos molda, que nos dá forma…sem o “Ontem” jamais haveria “Amanhã”…mas aprendi que, apesar de tudo, a vida é o presente…e mais, a vida é o Futuro!
Devemos ser mais fortes que todos os nossos medos, que todos os erros, que todas as desilusões…temos de ser! O caminho é sempre em frente...o que ficou para trás ficou…a vida é um instante mínimo…a nossa existência é tão curta, que as decisões são tomadas num piscar de olhos… ou agarramos nas coisas e as transportamos connosco para o “Amanhã”, ou elas perdem-se no Passado…e o sentido de continuidade de algo não é mais que o transportar esse algo, do “Ontem” para o “Agora” e do “ Agora” para o “Amanhã”. O medo é daqueles “algo” que não queremos, nem devemos, transportar no tempo…deve ficar sempre no passado e só quando isso acontece é que o ser humano conhece a verdadeira realidade e pode atingir a felicidade. E só agora pude perceber isso...levei tempo a desprender-me do passado… a deixar o “Ontem” e a olhar em frente, a descobrir que existem coisas mais belas na vida….demorei muito tempo a perceber onde me sentia feliz….”

LISBOA

Lisboa….menina singela e tão pura, que de noite se mostra uma mulher madura e boémia. O seu corpo é composto pelos bairros que se cruzam na paisagem urbana e de inqualificável beleza. Mas o corpo bairrista de Lisboa esconde, também, uma terna e doce alma fadista. Lisboa… um passo doble Lusitano. As colinas são a capa, e o toureiro, esse é personificado pela alma de todos aqueles que pisam a tradicional calçada portuguesa e percorrem a cidade, colorindo-a e dando um sentido à sua existência. Lisboa….varina que apregoa na ribeira o peixe fresco. Lisboa…cidade de lutas, de amores imperfeitos, histórias secretas e milagres escondidos.
A origem do nome "Lisboa" é um tanto ou quanto incerta. Poderá remontar aos Fenícios, tendo sido nomeada "Allis Ubbo" ou "Porto seguro". Outra teoria associa-se ao nome pré-romano do rio Tejo, "Lisso" ou "Lucio"; uma lenda popular conta que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulisses e os gregos chamaram-lhe "Olissipo" (cidade de Ulisses); os visigodos chamaram-na "Ulishbona" e os mouros, que tomaram a cidade no ano 719, nomearam-na, em árabe, "al-Lixbûnâ" ou "al-Ushbuna".
Lisboa….tanta história, tantos nomes…mas para as suas gentes é simplesmente Lisboa, uma cidade amada repleta de caminhos percorridos, passados vividos… tanta vida…tanta alma. Lisboa…muito se diz sobre ela: uma menina que, de dia, lá na varanda espreita quem passa nas vielas e conhece todos os namoricos secretos; uma menina que, de noite, se transforma em mulher e dança pelos bairros até de madrugada; uma mulher que na Mouraria ouve cantar um fado na tasca da ti Ana e só regressa quando rompe a madrugada. Ela entra em casa descalça para não acordar a mãe, deita-se na cama que é o Tejo e volta a ser a moça que lá da sua varanda, a mais alta das sete colinas, vê as gentes a passar, a correria desenfreada pelas ruas e a vida que corre nas veias da cidade.
Lisboa…o cheiro da castanha e da sardinha assadas. Lisboa…palco de procissões e das tradicionais Marchas Populares. Lisboa desfila pela avenida de braço dado com o Tejo...vestida de rainha mas com alma de varina apregoa em alta voz que é do povo. Lisboa, mulher da vida do povo.
Lisboa…bem portuguesa…canastra na cabeça e chinela no pé…cheia de sonhos e de desejos passeia no eléctrico da vida sempre como se fosse uma pequena criança. Lisboa…retrato de pobreza e riqueza das gentes…retrato de alegria e de tristeza. Lisboa…uma aguarela difícil de pintar…obra-prima de um pintor difícil de descrever.
Lisboa…cidade que nos prende a alma…olhar fadista, meio trocista. Canta-se à desgarrada…ouve-se a voz da Severa acompanhada pela suavidade de uma guitarra afinada. No seu jeito maroto corre de rua em rua, de bairro em bairro, desde Alfama à Madragoa…A mãe vem à janela gritar por ela para almoçar mas Lisboa é livre e independente, não obedece.
Lisboa…menina traquina que brinca de colina em colina e ainda tem tempo de namoriscar com o seu eterno amante – o Bairro Alto. Entre beijos e brincadeiras, Lisboa vai crescendo, vai amadurecendo e tornando-se mulher…Entre beijos e brincadeiras, Lisboa vai sendo feliz e fazendo feliz quem por ela passa….Lisboa é uma história feita da história das gentes.
Mais um dia vai acabando e está na hora de a menina se preparar para sair à rua e festejar a noite…dizendo adeus ao sol, recebe com entusiasmo a lua. Mais uma correria…mais uma dança…mais um fado nas tasca da ti Ana.
Lisboa…cedo se põe a pé e tarde se deita…Lisboa…mais uma noite que passa…mais um dia que começa resplandecente e alegre, bem ao jeito da menina. Lisboa entra em casa…a sua mãe ralha com ela…Lisboa…tão criança, tão mulher… só lhe responde, meio descarada: “Sou assim, sou feliz, sou Lisboa!”

Silêncio e Tanta Gente!

Lisboa, 1912.
Dois anos passaram desde que foi proclamada a República. Subo a calçada da Glória pelo Eléctrico. Descanso e aprecio a paisagem no Miradouro de São Pedro de Alcântara, a varanda do Bairro Alto. Que vista! São sensações como estas que fazem bem à alma.
Consigo ouvir ao longe alguns gritos. Devem ser os d’A República e os da Censura. “A República” é um jornal vespertino que nasceu em 1911. Foi-se instalar mesmo em frente ao edifício da comissão da censura! Provocação? Talvez…mas o facto é que os gritos, do alto da varanda de um lado para o outro, são o “pão-nosso de cada dia”. Insultos, provocações, palavrões, tudo o que se possa imaginar, agitam a vida pacata dos bairristas. De dia… sim, porque todos conhecemos a má fama do bairro…a sua vida nocturna. Os jornalistas trabalham aqui até às 6 horas da manhã.
“Olha o Século! Olha as notícias!”…lá vem o ardina a apregoar os jornais. Caminho mais um pouco. Entro na Rua do Século. Mudou este ano de nome em homenagem ao próprio jornal. Antigamente era a Rua Formosa...Número 63…estou à entrada d’O Século. Uma azáfama. Prepara-se a próxima edição. Defende as ideias republicanas. Satiriza. É o jornal dos sapateiros. Ouve-se falar numa greve. Mais uma quezília entre tipógrafos e repórteres...a situação não muda. É sempre a mesma coisa.
Subo a rua. Cruzo umas vielas e passo pelo “Diário de Notícias”. Fala-se de política. Já passaram por aqui, desde 1874, nomes como Eça de Queirós ou o pai de Fernando Pessoa. Continuo a minha caminhada matinal…respiro o ar que me rodeia. É incrível como o silêncio pode conter dentro de si a agitação e a vida de tanta gente.
Lá está “A capital”! Mais um jornal. O “Mundo”! Outro. Este é dos ilustres. Ali veem eles… Bom dia, Senhor António José de Almeida! Bom dia, Senhor Teófilo Braga! Pode dizer-se que “tutti mundi” lê “O Mundo”. É o jornal mais fofoqueiro da cidade inteira.
Chego ao pé d’A Republica. Os gritos já acabaram. A censura recolheu-se. A Republica voltou à azáfama da vida jornalística. O ardina continua a apregoar os jornais. Mais uma vez, sento-me no Miradouro e olho as vistas. Desço a calçada da Glória no eléctrico amarelo. Olho mais uma vez para trás. Aprecio o silêncio. Aprecio as gentes. Como será tudo isto daqui a uns anos?