sexta-feira, 3 de julho de 2009

LISBOA

Lisboa….menina singela e tão pura, que de noite se mostra uma mulher madura e boémia. O seu corpo é composto pelos bairros que se cruzam na paisagem urbana e de inqualificável beleza. Mas o corpo bairrista de Lisboa esconde, também, uma terna e doce alma fadista. Lisboa… um passo doble Lusitano. As colinas são a capa, e o toureiro, esse é personificado pela alma de todos aqueles que pisam a tradicional calçada portuguesa e percorrem a cidade, colorindo-a e dando um sentido à sua existência. Lisboa….varina que apregoa na ribeira o peixe fresco. Lisboa…cidade de lutas, de amores imperfeitos, histórias secretas e milagres escondidos.
A origem do nome "Lisboa" é um tanto ou quanto incerta. Poderá remontar aos Fenícios, tendo sido nomeada "Allis Ubbo" ou "Porto seguro". Outra teoria associa-se ao nome pré-romano do rio Tejo, "Lisso" ou "Lucio"; uma lenda popular conta que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulisses e os gregos chamaram-lhe "Olissipo" (cidade de Ulisses); os visigodos chamaram-na "Ulishbona" e os mouros, que tomaram a cidade no ano 719, nomearam-na, em árabe, "al-Lixbûnâ" ou "al-Ushbuna".
Lisboa….tanta história, tantos nomes…mas para as suas gentes é simplesmente Lisboa, uma cidade amada repleta de caminhos percorridos, passados vividos… tanta vida…tanta alma. Lisboa…muito se diz sobre ela: uma menina que, de dia, lá na varanda espreita quem passa nas vielas e conhece todos os namoricos secretos; uma menina que, de noite, se transforma em mulher e dança pelos bairros até de madrugada; uma mulher que na Mouraria ouve cantar um fado na tasca da ti Ana e só regressa quando rompe a madrugada. Ela entra em casa descalça para não acordar a mãe, deita-se na cama que é o Tejo e volta a ser a moça que lá da sua varanda, a mais alta das sete colinas, vê as gentes a passar, a correria desenfreada pelas ruas e a vida que corre nas veias da cidade.
Lisboa…o cheiro da castanha e da sardinha assadas. Lisboa…palco de procissões e das tradicionais Marchas Populares. Lisboa desfila pela avenida de braço dado com o Tejo...vestida de rainha mas com alma de varina apregoa em alta voz que é do povo. Lisboa, mulher da vida do povo.
Lisboa…bem portuguesa…canastra na cabeça e chinela no pé…cheia de sonhos e de desejos passeia no eléctrico da vida sempre como se fosse uma pequena criança. Lisboa…retrato de pobreza e riqueza das gentes…retrato de alegria e de tristeza. Lisboa…uma aguarela difícil de pintar…obra-prima de um pintor difícil de descrever.
Lisboa…cidade que nos prende a alma…olhar fadista, meio trocista. Canta-se à desgarrada…ouve-se a voz da Severa acompanhada pela suavidade de uma guitarra afinada. No seu jeito maroto corre de rua em rua, de bairro em bairro, desde Alfama à Madragoa…A mãe vem à janela gritar por ela para almoçar mas Lisboa é livre e independente, não obedece.
Lisboa…menina traquina que brinca de colina em colina e ainda tem tempo de namoriscar com o seu eterno amante – o Bairro Alto. Entre beijos e brincadeiras, Lisboa vai crescendo, vai amadurecendo e tornando-se mulher…Entre beijos e brincadeiras, Lisboa vai sendo feliz e fazendo feliz quem por ela passa….Lisboa é uma história feita da história das gentes.
Mais um dia vai acabando e está na hora de a menina se preparar para sair à rua e festejar a noite…dizendo adeus ao sol, recebe com entusiasmo a lua. Mais uma correria…mais uma dança…mais um fado nas tasca da ti Ana.
Lisboa…cedo se põe a pé e tarde se deita…Lisboa…mais uma noite que passa…mais um dia que começa resplandecente e alegre, bem ao jeito da menina. Lisboa entra em casa…a sua mãe ralha com ela…Lisboa…tão criança, tão mulher… só lhe responde, meio descarada: “Sou assim, sou feliz, sou Lisboa!”

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